Às vezes duvido se uma vida calma e tranquila teria sido conveniente para mim - e no entanto ás vezes anseio por isso.
[ BYRON ]
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Quando são duas da manhã e se está maníaco, num inteso estado de alerta, absorvo tudo que está ao meu redor.
A vezes não tenho a distinção normal entre noite e dia.
Desde minhas lembranças mais remotas, eu era propensa a inconstâncias de humor de uma forma assustadora, embora frequentemente maravilhosa.
Criança de emoções intensas, volúvel quando menina, a princípio gravemente deprimida na adoslescência, e depois presa sem trégua aos ciclos maníacos-depressivo na época em que começo minha vida profissional, tornei-me por necessidade e por inclinação intelectual uma estudiosa.
Minhas manias, pelo menos nas suas formas mais brandas, são resultados absolutamente inebriantes que proporcionam intenso prazer pessoal, fluidez incomparável de pensamentos e uma energia contínua que permite a transposição de novas idéias para os trabalhos acadêmicos e projetos.
Demorei demais para perceber que anos de relacionamentos perdidos não podem ser recuperados, que o mal que se faz a si mesmo e aos outros nem sempre pode ser corrigido e que libertar-se do controle imposto pela medicação perde seu significado quando as únicas alternativas são a morte e a insanidade.
A medicação não só interrompe os periodos velozes, de vôos altos, ela também traz consigo efeitos colaterais aparentemente intoleráveis.
Estou cansada de me esconder, cansada de energias desperdiçadas e emaranhadas, cansada de hipocrisia e cansada de agir como se eu tivesse algo a esconder. Cada um é o que é, e a desonestidade de se esconder atrás de um diploma, de um título ou de qualquer forma e reunião de palavras é exatamente isso: desonesta.
Estudante de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo. A Universidade revelou-se o melhor lugar possível pra mim. No entanto, ela não pode oferecer nenhuma proteção significativa contra a terrível agitação e dor dentro da minha cabeça.
Para muitas pessoas, a época da faculdade foram os melhores anos da sua vida. Para mim, isso é inconcebível. Esses tempos de faculdade tem sido, principalmente, uma luta terrível, um pesadelo recorrente de estados de espírito violentos e apavorantes aliviados somente de vez em quando por semanas, às vezes meses, de grande diversão, paixão, fortes entusiasmos e longos períodos de trabalho árduo mas agradável. Esse padrão de instabilidade de humor e energia tem um aspecto muito sedutor, decorrente em grande proporção das infusões intermitentes da animação inebriante que eu havia saboreado no segundo grau. Essas infusões eram extraordinárias, inundando meu cérebro com uma enxurada de idéias e energia mais do que suficiente para me dar pelo menos a ilusão de executá-las.
Quase tudo é exagerado. Em vez de comprar uma caneta nanquin, eu comprava nove. Em vez de me matricular em cinco matérias, eu me matriculava em sete.
E depois, como a noite inevitavelmente se segue ao dia, meu ânimo entra em colapso, e minha mente sofre. Eu perco o interesse pelo trabalho acadêmico, pelos amigos, pela leitura, pelos passeios ou por sonhar acordada. Não faço nenhuma idéia do que está acontecendo comigo, e costumo acordar pela manhã com uma sensação de pavor por ter de atravessar mais um dia inteiro.
Eu tinha pouquíssima compreensão do que estava acontecendo. Eu me sentia totalmente só. A ponto de parar de atender o telefone e tomava banhos intermináveis na vã esperança de que pudesse de alguma forma escapar do entorpecimento da melancolia.
Eventualmente, esses períodos de desespero total eram exacerbados por uma agitação terrível. Minha mente voa. E como não fazia idéia do que estava acontecendo me sentia incapaz de pedir ajuda a qualquer pessoa.
Quando cheguei a primeira vez a clínica só fui capaz de ficar ali sentada, paralisada de medo e vergonha, sem conseguir ir embora e sem conseguir entrar. Devo ter ficado ali sentada, soluçando, com a cabeça entre as mãos, por mais de uma hora.
Eu não acordei um dia e me descobri louca. A vida não é tão simples assim. Em vez disso, fui percebendo aos poucos que minha vida e minha mente estavam atingindo uma velocidade cada vez maior até que afinal num determinado evento, perdi o controle.
No processo de auto-controle e superação entre consultas, leituras e medicação, descobri uma forma de mudar o foco do meu estado maniaco. O oficio manual ligado ao processo criativo do artesanato tem colaborado em diversos momento como canalização dos sentimentos.
E entre flores, folhas, joainhas, borboletas, panos, botões, papéis, tesouras, linhas e agulhas controlo o ritmo da minha vida...
Encontrar uma via de expressão para conduzir os fluxos de nossas percepções sobre a vida, e de repente fazemos isso tão "anti -objetivamente" que se torna poesia, a arte transforma nossos sofrimentos em narrativa repleta de uma outra lógica, a arte nos salva, nos surpreende e nos regenera, o teatro fez isso por mim, tratou de minhas feridas... seu texto me encantou, é pura poesia....
ResponderExcluirContinue...
Bjs
Andréa "estando" no Acre
Parece que estou lendo sobre mim...
ResponderExcluirestou em depressão e cada vez mais mergulhada em idéias de artesanato pois se não ocupar minha mente acho que piro!!
parabéns pelo seu trabalho e pelo seu blog também!!
sucesso!